Salvo erro, porque fui à consulta externa no Hospital Militar, meteram-me na mão uma guia de marcha e, no aeroporto de São Salvador, tomei lugar no Nord Atlas, que me levaria a Luanda.
Aí a expectativa era grande.Imaginem::-Ir rever Luanda.Ir lá passar uns dias.Mesmo que se tratasse de ir ao médico.Nada importava.
Só o ir ver Luanda contava.
Do horizonte surge a gigantesca figura do Nord Atlas.Faz-.se à pista.Uns metros andados, por entre o ensurdecedor barulho dos motores.
A velocidade que abranda.Docemente,para no parque de estacionamento.A poeira levantada pelo "monstro", começa a poisar sobre nos.Todos se sacode.Param os motores.Abrem-se às portas e,detrás, sai a rapaziada.Camaradas que vinham de Luanda para aquela região, regressando às suas unidades, depois de umas férias, ou por qualquer outro motivo, até semelhante ao que me levava a Luanda.
Depois é a tripulação do " cama-couve-do-ar", que abandona a carlinga.Trocam-se sdaudações.Aqui e ali rodas de militares que conversam.
Para um observador atento,as expressões daqueles que falavam de Luanda diziam tudo.Falavam por si.Deixavam antever as belas manhãs de praia e os passeios nocturnos ou o "fino" da Biker, ou dfo Polo Norte, ou do "rafiné" lanche das cinco na Versailles, ou ainda o esquecimento nos braços de uma mulher.
O quadro tornava-se num aperitivo para os que iam, ou no sabor desesperado do desejo para os que não iam.
Diverso pessoal procedia à descarga do Nord Atlas. Uma carga absolutamente idescritivel saía da "barriga" do avião.Ou eram frescos, ou carnes, ou jornais, ou material de guerra.Um "brique à braque" extraordinário se foi amontoando nas GMC e nos jipões, que ali se encontravam.
Depois era a partida: abraços, recomendações. As portas, que se fechavam, davam origem ao levantar de braços a dizerem adeus. Aqui ou além, uma correcta continência, cumprimentava este ou aquele graduado.Simultâneamente os turbo-reactores são experimentados em conjunto com os motores do Nord. Faz-se à pista.No rosto dos que ficam o intenso desejo de irem.Acelerações fortes definem a partida. A pista corre debaixo de nós. O 2focinho" do avião levanta-se para o ar.Lá em baixo tudo foge para trás.Tudo fica pequeno. Os homens e as casas.As nuvens são agora a meta.Lá dentro um barullho ensurdecedor, misturado com os mais diversos cheiros.No exterior as nuvens sucedem-se.Há que esperar. Lá em baixo vão surgindo povoações, sanzalas abandonadas, pantanos, rios que serpenteiam por entre a planície, morros aqui e além, extensões enormes de mata, extensões enormes de capim, estradas de um castanho-terra descrem curvas e contracurvas.Umas vezes desaparecem na mata, para voltarem a aperecer à frente.Dentro do Nord já se conversa.Fuma-se.Passa-se o lenço pelo rosto limpando o suor.O suor provocado pelo calor.Há quem enjoe.Há até quem vomite.Pergunta-se aos tripulantes:- Oh, amigo!Falta muito?...
Surge lá em baixo uma configuração diferente do terreno. É um terreno cor de cinza.Logo alguém diz:-Estamos sobre o litoral.Daqui a pouco vemods o mar.
E dando razão a quem falou, o mar beija as areias da praia lá ao fundo, as ondas repetem-se, como se dentro desse enorme "lago" alguém tivesse deixado cair uma gigantesca pedra.Em determinados pontos, conseguimos ver o fundo do oiceano juntà praia.Na linha do horizonte mistura-se o azul do mar com o cinzento esbranquiçado das nuvens, não se distingindo onde acaba o mar e começa o céu.
Por baixo de nós a costa.Sempre a costa, até Luanda.
- Olha ali!
E aponta-se. Todos olham para a referência dada pelo indicador.Lá está o Cacuaco.Depois algumas zonas escarpadas sobre o mar.Por fim surgem os bairros periféricos do aeroporto.Antes, havíamos sobrevoado a Fortaleza, a Baía, a Ilha, a Marginal e os prédios. Os prédios de ferro e cimento. DCepois surge o no smoking."Não fumar".O furriel mecânico, diz:-Não saiam dos vossos lugares.Lugares de "suma-pau".
Lugares que eram acima das caixas. Lugares em bancos corridos de lona de um e doutro lado do avião.
Começamos perdendo altitude a caminho da pista. Os ouvidos zunem.A diferença d e presão causa o fenómeno.A pista aproxima-se, negra, de asfalto.Uma louca correria.Paragem junto à splacas da base aérea.Depois as formalidades de desembarque.Formalidades puramente militares.
*
Um táxi que espera...Para onde?...
-Leve-me...
Lá dizemos o local, e aí vamos desfilando pelas ruas da cidade.Primeiro a Avenida do Aeroporto.Depois a Mutamba, loucpomovimento.Atravessamos a <"capital" de Luanda.Bichas de gente à espera do auto carro.E olhamos.Olhamos para o ar.Para ver os prédios altos.E surgem os polícias sinaleiros empertigados na "peanha".Com movimentos enérgicos a dirigirem o trânsito.Ruído de gentr que atravessa as ruas, de automóveis que tyravam, dos ardinas a anunciarem:
- A Provincia dÀngola...Olha o Comércio...Oh patrão sai uma graxa?...
Pensei que reparassem em mim, no meu camuflado.Ninguém vê.Todos olham para dentro.De boca aberta, vejo o perfil de uma mulher bonita.Uma mulher que atravessa a rua.Num passo elegante.Altiva.DE negros cabelos caídos sobre os ombros.Alguém lhe diz um "piropo".Outro alguém ri....
Acordo de repente.Do meu sonho acordado.E dá-me vontade de ngritar, e a todos dizer:
-Vim do Norter.Estou em Luanda.Olhem para mim.Vejam como sou feliz!...